Ministério não sabia de ameaças a servidor da Funai, diz ministra

Jornalista inglês Dom Phillips

Jornalista inglês Dom Phillips
Twitter/Reprodução – Arquivo

A ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos, Cristiane Britto, disse que a pasta acompanha o caso do desaparecimento do indigenista da Fundação Nacional do Índio (Funai) Bruno Araújo Pereira e do jornalista inglês Dom Phillips, colaborador do jornal The Guardian. Eles sumiram neste domingo (5) no Vale do Javari, no Amazonas, quando faziam o trajeto entre a comunidade ribeirinha São Rafael e a cidade de Atalaia do Norte, distante 1.135 km de Manaus. 

“Tomamos conhecimento do caso hoje, o que sei ainda é que as autoridades estão investigando. Estamos atentos, mas precisamos aguardar as investigações, que agora é o mais importante para chegar até eles”, disse a ministra ao R7. Segundo a chefe da pasta, o ministério não foi informado sobre as ameaças que o servidor da Funai estava sofrendo na região e minimizou as críticas de organizações indígenas, que denunciam o aumento da violência contra povos originários e ambientalistas. 

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Segundo lideranças da região, o servidor da Funai estava sendo alvo de ameaças vindas de garimpeiros e madeireiros na última semana. O Vale do Javari, no extremo oeste do Amazonas, fica próximo à fronteira com o Peru e abriga ao menos 14 grupos isolados — a maior população indígena não contatada do mundo.

“Esse governo é o que mais tem protegido os indígenas em todas as suas especificidades. A mulher indígena, quando a gente fala do combate à violência doméstica; a criança indígena, quando a gente fala das crianças que nascem com algum tipo de doenças e que são sacrificadas. Nunca se falou nisso e esse é o governo que tem protegido as crianças e as mulheres”, comentou a ministra.

O Ministério dos Direitos Humanos ainda ressaltou que, apesar das denúncias de ameaças contra ambientalistas na Amazônia, o governo ampliou, em 2019, o Programa de Proteção aos Defensores de Direitos Humanos, Comunicadores e Ambientalistas (PPDDH), que  atua no atendimento e acompanhamento dos casos de risco e de ameaça de morte de defensores de direitos humanos, comunicadores e ambientalistas. Atualmente, cerca de 600 pessoas são acompanhadas pelo programa em todo o pais.

No caso de Bruno Araújo, a União das Organizações Indígenas do Vale do Javari (Univaja), afirmou nesta segunda-feira (6) que o servidor e equipes da Funai já foram alvos de diversas outras ameaças na região. Essas ameaças teriam sido relatadas à Polícia Federal, ao Ministério Público Federal (MPF), ao Conselho Nacional de Direitos Humanos e às organizações internacionais dos direitos dos povos indígenas.

O MPF instaurou um procedimento administrativo e acionou a Polícia Federal, a Polícia Civil, a Força Nacional, a Frente de Proteção Etnoambiental Vale do Javari e a Marinha após ser comunicado do sumiço do indigenista e do jornalista. O Exército e a Polícia Civil atuam nas buscas.

Desaparecidos na Amazônia

Bruno e Dom saíram de Atalaia do Norte para visitar a equipe de vigilância indígena do Lago do Jaburu na sexta-feira (3). Eles deveriam ter voltado ao município no último domingo pela manhã. Segundo a Funai, Bruno Araújo não estava em “missão institucional”. De acordo com o órgão, embora ele ainda integre o quadro da fundação, estava de “licença para tratar de interesses particulares”.

Os dois viajavam com uma embarcação nova, 70 litros de gasolina — o suficiente para a viagem — e sete tambores vazios de combustível. Por volta das 6h do domingo, eles chegaram à comunidade São Rafael, onde encontrariam uma liderança local. Sem conseguir localizar o morador, decidiram voltar a Atalaia do Norte, viagem que deveria durar cerca de duas horas. Contudo, não chegaram ao local.

“Às 14h, saiu de Atalaia do Norte uma primeira equipe de busca da Univaja, formada por indígenas extremamente conhecedores da região. A equipe cobriu o mesmo trecho que Bruno Pereira e o jornalista Dom Phillips supostamente teriam percorrido, mas nenhum vestígio foi encontrado”, informa o comunicado da Univaja.

Bruno é indigenista especializado em povos indígenas isolados e conhecedor da região, onde foi coordenador regional por cinco anos. Já Phillips mora em Salvador, na Bahia, e faz reportagens sobre o Brasil há 15 anos para o New York Times e o Washington Post, bem como para o Guardian.

Segundo informações divulgadas pelo jornal, a embaixada britânica no Brasil também acompanha o caso. “O Guardian está muito preocupado e busca urgentemente informações sobre o paradeiro e as condições de Phillips. Estamos em contato com a embaixada britânica no Brasil e autoridades locais e nacionais para tentar apurar os fatos o mais rápido possível”, diz a nota.