Hector RETAMAL / AFP
Após dois meses da manutenção da política Covid zero em Xangai na China, o governo deu início as flexibilizações na última quarta-feira (1°). Moradores que estavam em confinamento voltaram as ruas e o país deu sinais de volta à normalidade. Apesar da alta de mais de 2,08% até quarta-feira (1º), o mercado não tem demonstrado confiança em uma possível reabertura.
O índice de referência do mercado acionário brasileiro, o Ibovespa, registrou queda de 0,75% na semana, interrompendo sequência de três altas semanais.
A recuperação mais forte do país deve vir só no segundo semestre. Enquanto isso, a Bolsa brasileira segue volátil e a cotação das commodities, que influenciam no preço dos alimentos e da energia, continuam pressionados.
Segundo Hugo Garbe, professor do Mackenzie e economista-chefe da G11 Finance, a retomada na China pós-Covid-19 não será imedidatamente após a reabertura. “A recuperação pós-crise exige um período de adaptação e também de recuperação. O Brasil, por exemplo, começou a ter resultados importantes no PIB depois de seis meses de reabertura econômica, o incremento de 1% no crescimento aconteceu seis meses depois da reabertura parcial do comércio. Então, a expectativa é que a economia chinesa tenha uma recuperação forte a partir do segundo semestre de 2022”, afirma.
“No caso da China houve uma reabertura, depois fecharam novamente. Principalmente, em Xangai, a economia foi fechada completamente. Enquanto outros países estavam com ela pujante e aberta. Isso prejudicou também a recuperação do país”, completa Garbe.
Mas o mercado enxerga com receio os sinais de reabertura, de acordo com estrategista de ações da XP, Jennie Li. “Estamos vendo sinalizações um pouco mais positivas com a reabertura econômica em Xangai, porém ainda restam dúvidas como a China vai abordar isso daqui para frente. Ainda não é claro para o mercado se a política de Covid zero acabou. Pode ser que surjam outros surtos e isso poderia levar a novas restrições. Essas políticas estão no radar ainda”, explica.
“Ao longo desses últimos meses, eles continuaram a insistir que vão controlar a Covid-19, por conta de várias preocupações por lá, como baixa vacinação entre idosos e dúvida sobre uma imunidade de rebanho. Não se sabe também se uma reabertura total levaria a uma explosão de casos na China”, complementa Jennie Li.
Para a estrategista de ações, apesar da expectativa de recuperação, dificilmente a China vai conseguir as metas para a economia. “O PIB do segundo semestre, provavelmente vai refletir os impactos da Covid-19. A dúvida é se a China vai conseguir atingir a meta de crescimento de 5,5%, provavelmente não. Isso acende um grande alerta de desaceleração econômica, junto com uma política de retirada de estímulos monetário dos bancos centrais dos mercados envolvidos, há uma preocupação para a economia global como um todo”, analisa a economista da XP.
Segundo ela, a dúvida do mercado sobre a recuperação e outros lockdowns na China irão ter impactos negativos na Bolsa brasileira. “Essa situação reflete, principalmente, no preço e na volatilidade das commodities, à medida que a gente tem notícias da demanda chinesa ou não. Daqui para a frente para o mercado de forma geral isso acaba sendo um risco. Eu olharia para o mercado chinês ainda com um olhar de cautela a médio e longo prazo”, afirma Jennie Li.
Como segunda maior economia, a desaceleração da China impacta em outros países, inclusive no Brasil. “Por ser um importante player do mundo e o maior mercado consumidor, se a economia chinesa continua em lockdown e entra em recessão, você tem uma diminuição de consumo de vários produtos e matérias-primas importantes como um todo, como minério de ferro, veículos, produtos de consumo e etc. Isso faz com que grande parte dos países dependentes do consumo chinês sinta o reflexo na sua economia”, explica Garbe.
O Ibovespa por enquanto está encerrando a semana em queda, depois de três altas semanais consecutivas.
*Estagiária do R7, sob supervisão de Ana Vinhas