O VÍRUS DA DESINFORMAÇÃO E O PRECONCEITO CONTRA A ECT


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Tenho profundo respeito pelo filósofo Luiz Felipe Pondé. Mas, recentemente, no dia 26/05/2022, ele fez um comentário no Jornal da Cultura, da TV Cultura, se referindo aos médicos psiquiatras e à Eletroconvulsoterapia (ECT) de forma pejorativa. A ABP- Associação Brasileira de Psiquiatria- fez inclusive uma nota oficial de repúdio à fala do Pondé.

Longe da imagem de tortura do passado, a ECT é usada para tratamento de algumas doenças mentais graves e refratárias aos medicamentos. Salva vidas nesses casos psiquiátricos severos. Inúmeros trabalhos científicos atestam sua eficácia e segurança maiores do que dos medicamentos psicotrópicos. O paciente é anestesiado e acompanhado por uma equipe médica que segue diretrizes estabelecidas por instituições acadêmicas e hospitalares sérias e respeitadas de todo o mundo.

Entre as associações médicas de excelência que aprovam a ECT temos a Food and Drug Administration (FDA, EUA), Royal College (Reino Unido), Associação Psiquiátrica Americana, Johns Hopkins e Departamento de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da USP entre outros.

Pondé usou a palavra ignorância para quem defende ou reconhece a ECT como um dos tratamentos mais eficazes para quadros mentais graves e com riscos de suicídio iminentes. Uma pena uma pessoa tão intelectualizada e inteligente como ele não ter se informado melhor a respeito desse assunto nos dias atuais, inclusive se propondo a conhecer o procedimento na realidade da medicina atual. Fez um discurso totalmente defasado no tempo e sem nenhum embasamento técnico consistente. Ninguém domina todos os assuntos e precisa tomar cuidado nesse tipo de análise dentro de uma especialidade médica alheia ao conhecimento dele sobre um assunto tão polêmico e envolto por mitos e preconceitos.

Creio que questões importantes de saúde devem ser vistas apenas pelo prisma da ciência, sem um viés de análise política neste caso específico. O que está em jogo é a prevenção de consequências drásticas como o suicídio decorrentes de doenças mentais graves e que precisam de respostas terapêuticas rápidas, eficazes e seguras como a ECT. Em mulheres grávidas, com distúrbios psiquiátricos graves, a ECT é mais segura e eficaz que qualquer medicamento.

A psiquiatria evoluiu muito nas últimas décadas e usar da referência do que foi a técnica da ECT no passado, com questões até desumanas, espalha um virus da desinformação além de aumentar a psicofobia, ou seja, o preconceito contra quem sofre de doença mental ou precisa de atendimento psiquiátrico.

Quem sofre ou tem um familiar estimado com quadro psiquiátrico grave sabe muito bem do que estou falando. Lutamos, como profissionais da área de saúde mental, por tratamentos humanizados e que sejam eficazes e seguros a todos os pacientes. E aqui tem que preponderar a ciência, a informação correta e atual e não o viés de análise leiga distorcida de um assunto tão sério e que afeta milhões de vidas humanas.