Fabrice Coffrini/AFP – Arquivo
Os mais de 200 casos de varíola do macaco registrados nas últimas semanas fora dos países onde a doença costuma circular poderiam ser a “ponta do iceberg”, advertiu nesta sexta-feira (27) a OMS (Organização Mundial da Saúde), que, no entanto, afirmou que não há motivo para pânico.
“Não sabemos se estamos vendo apenas a ponta do iceberg”, reconheceu Sylvie Briand, chefe de preparação e prevenção de epidemias e pandemias da OMS, durante uma sessão informativa.
Os especialistas tentam agora determinar as causas dessa “situação incomum”, acrescentou.
As investigações preliminares não parecem sugerir que o vírus tenha sofrido algumas mutações, e Sylvie acredita que é possível deter sua propagação.
“Temos uma boa oportunidade para deter a transmissão agora”, disse. “Se implementarmos as medidas adequadas, provavelmente vamos conseguir contê-la facilmente.”
O Reino Unido foi o primeiro governo a chamar a atenção para os casos da doença, no dia 7 de maio. Desde então, cerca de 200 casos em países onde o vírus não é endêmico foram reportados à OMS.
O Centro Europeu para Prevenção e Controle de Doenças (ECDC, na sigla em inglês) cifrou o número de casos em 219.
A varíola do macaco é endêmica em 11 países do leste e do centro da África. Nas últimas semanas, porém, foram registrados casos em mais de 20 outros países, incluindo Estados Unidos, Austrália, Emirados Árabes Unidos e membros da União Europeia.
O Ministério da Saúde da Espanha notificou nesta sexta-feira um total de 98 casos até agora, um pouco mais que o Reino Unido, onde há 90 infecções confirmadas.
Em Portugal, o número de casos é de 74, segundo informaram as autoridades sanitárias nesta sexta. Todos os infectados são homens, e a maioria tem menos de 40 anos, assinalaram.
“Ainda estamos no início deste evento”, disse Sylvie aos representantes dos Estados-membros presentes na Assembleia Mundial da Saúde, em Genebra.
“Sabemos que haverá mais casos nos próximos dias”, afirmou ela, embora tenha enfatizado que não há motivo para espalhar pânico.
“Não é uma doença que deve preocupar o público geral. Não é a Covid nem outra doença que se expande rápido”, ressaltou.
A varíola do macaco pertence à mesma família da varíola, que matou milhões de pessoas por ano antes de ser erradicada, em 1980.
Mas a varíola do macaco é muito menos grave e tem uma taxa de mortalidade de entre 3% e 6%, dependendo dos casos. A maioria dos infectados se recupera em três ou quatro semanas.
Os primeiros sintomas incluem febre, dor de cabeça e dores musculares nas costas. Depois, surgem erupções cutâneas, lesões, pústulas e, finalmente, cascas de ferida.
Vários especialistas ressaltaram que, embora o vírus possa ser contraído durante um ato sexual, a varíola do macaco não é uma doença sexualmente transmissível.
A transmissão requer contato próximo e prolongado entre duas pessoas e acontece principalmente por meio da saliva e do pus das lesões cutâneas surgidas durante a infecção.
Por ora, não existem muitas possibilidades de tratamento, mas há alguns antivirais desenvolvidos contra a varíola, entre eles um que foi aprovado recentemente pela Agência Europeia de Medicamentos, assinalou Sylvie.
Também está comprovado que as vacinas desenvolvidas para o combate à varíola tradicional são eficazes em 85% para prevenir a varíola do macaco.
Arte/R7